“As populações do Sul, em especial as africanas, são cobaias dos testes clínicos de grandes laboratórios que testam ali, à guisa de princípios éticos, medicamentos que servem aos mercados do Norte.”(Jean-Philippe Chippaux- Le Monde Diplomatique)


Jean-Philippe Chippaux escreveu um artigo no Le Monde Diplomatique a respeito de testes clínicos feitos em pessoas de países subdesenvolvidos. Esses testes são feitos sem uma informação sumária, consentimento dos sujeitos, respeito à ética médica, controle terapêutico suficiente e segurança do paciente. As pessoas são tratadas como verdadeiras cobaias humanas. É um bom exemplo de desrespeito aos Direitos Humanos, tão difundidos por países sedes dessas indústrias farmacêuticas. Apesar de existirem leis internacionais que condenam os testes, elas não possuem sequer algum tipo de sanção.


Chippaux afirma que o antibiótico Tenofovir, do laboratório norte americano Gilead Sciences, teve seu teste suspenso na Nigéria, por “motivos de problemas éticos graves”. Também foram suspensos os testes em Camarões e Camboja. Todavia, continuaram ocorrendo na Tailândia, em Botsuana, Malavi, Gana e nos EUA (provavelmente entre a população negra e latino americana). Problema semelhante aconteceu com a Pfizzer. Ela foi acusada por trinta famílias nigerianas, visto que seu medicamento para meningite matou onze crianças e outras ficaram com graves seqüelas. Ocorreram escândalos também com o anti-séptico Stalinom, que motou 102 pessoas na França e com o talco Morghange, que intoxicou 145 bebês e matou 36.


“Na África, as possíveis regulamentações médicas e farmacêuticas datam da época colonial e parecem obsoletas e inadequadas. Os riscos de falta de ética são ainda maiores porque os laboratórios fazem cada vez mais seus testes no continente negro. Na verdade, ali, seu custo é até cinco vezes menor do que nos países desenvolvidos. Além disso, as condições epidemiológicas na África se revelam constantemente mais propícias à realização de testes: freqüência elevada de doenças, sobretudo infecciosas, e existência de sintomas não atenuados por tratamentos reiterados e intensivos. Enfim, o caráter dócil dos pacientes, em grande miséria, dada à pobreza das estruturas sanitárias locais, facilita as operações.”


“Esse cenário ajuda a contornar os princípios éticos. Foi assim que, durante o teste clínico do Trovan®, nem as autoridades nigerianas, nem o comitê ético foram consultados, pelo menos formalmente, sobre a informação dada às famílias e os arquivos de seu consentimento. Da mesma maneira, os testes do antivirótico Tenofovir® em 400 prostitutas de Camarões, de julho de 2004 a janeiro de 2005, não cumpriram as exigências éticas. Essa molécula reduz a transmissão do VIS, o equivalente ao HIV no macaco. O fabricante queria verificar essa propriedade no ser humano e escolheu uma população de risco, as trabalhadoras do sexo de um país com grande número de casos de HIV, devido a seu elevado risco de contrair o vírus.”


Visando enganar as pessoas, as indústrias passam informações em inglês sobre os testes. Além disso, tais pessoas são, na maioria dos casos, analfabetas. Muitas acreditam que estão sendo vacinadas. Outro grave problema é o fato desses pacientes serem infectados pelas doenças. Eles sequer sabem que podem nunca mais serem curados.


“No final da década de 1990, a cifra dos negócios mundiais da indústria farmacêutica (380 bilhões de euros) era superior ao produto interno bruto dos países da África Subsaariana (300 bilhões de euros).” Os africanos sofrem até hoje com o imperialismo dos países do norte. São ainda tratados como coisas. Quando representam um lucro em potencial, recebem maciços investimentos, como na indústria do petróleo, das pedras preciosas e farmacêuticas. Não são vistos nem como mercado consumidor. São considerados como mão-de-obra barata. A ONU e os países taxados como defensores da liberdade não se preocupam em denunciar os abusos cometidos por ditadores em grande parte dos países africanos, com exceção, claro, dos países economicamente estratégicos. E quando esses ditadores se “comportam bem”, recebem investimentos militares. Essa é a lógica capitalista.




Fonte:
http://diplo.uol.com.br/2005-06,a1117