Centro de Referência da Juventude de BH: uma crítica

Bom... Esse assunto tem rendido uma boa discussão. Quem está diretamente envolvido com as conversas sobre as Juventudes de BH, sabe que o Centro de Referência é um assunto que tem gerado controvérsia.


Em diversos encontros que tive com lideranças governamentais, foi-me assegurado que esse Centro seria um espaço de fomento à diversidade artística e cultural do jovem da região metropolitana. Com um orçamento de construção previsto de R$ 15 milhões, o CRJ ficaria situado onde hoje é o Miguilim (entre o Viaduto da Floresta e a Praça da Estação, no centro de Belo Horizonte). 


Pois bem. Faço uma crítica no que se refere à construção desse "centro" e na estratégia de se tentar "centralizar" as atividades juvenis que se encontram pulverizadas - e muitas vezes pouco incentivadas, sendo feitas NA TORA - tentando alocá-las em um espaço. É simples, não precisa de desenho.


Nossa Prefeitura e nosso Governo do Estado têm um pequeníssimo defeito: de chegar impondo demandas e, quando são demandados, de se vangloriarem por executarem tais feitos, que eram ânsia da sociedade civil. Não é o caso do CRJ, que foi um projeto aprovado na Conferência Municipal de Juventude de 2008, salvo engano. Mas vou-lhes ser sincero: o modelo de conferência como espaço de participação que estamos utilizando é defasado: reúnem-se vários jovens (inclusive, muitos com idade inferior ao permitido no regulamento) que estão pouco situados das questões discutidas, que não foram levados a pensar as questões que estão na mesa e que estão lá apenas para cumprir a tabela do Estado como "olha só, a conferência deu quórum". A tática dos "ônibus lotados" ainda impera - e foi em uma conferência dessa que saiu a aprovação do Centro de Referência. Fico em dúvida quanto à real efetividade de um sistema de participação como esse - e das demandas que de lá saem, mesmo as que são arduamente discutidas. Mas deixo isso para outro momento.


Você me perguntaria se "esse centro não seria coisa boa". No nosso momento atual, negativo.


Em Belo Horizonte, priorizou-se a cultura da descentralização para poder levar aos bairros mais afastados a possibilidade de nesses locais ocorrerem apresentações artísticas, culturais, momentos educacionais etc. Estou falando dos Centros Culturais - como o do São Bernardo, do Urucuia, da Vila Marçola etc. São espaços que foram pensados para descentralizar as ações culturais e dar oportunidade à comunidade de mostrar o seu potencial e de ver coisas novas. Só que temos que lembrar que quem está "dirigindo" o bonde  do 1212 não é uma pessoa sensível às causas da cidade, mas, sim, um senhor deveras preocupado com metas. Típico comportamento empresarial que é nefasto à uma cidade que tem necessidades diversas. A situação dos Centros Culturais não é a das melhores - são 33 centros espalhados pela cidade, que contam com um orçamento de mais ou menos R$ 100 mil. Para os 33 centros! 


Ainda que haja essa falta de grana nos Centros Culturais, existe uma galera que se apropria desses espaços, mobilizando o seu lugar para frequentar o equipamento. As juventudes não têm um viés hierárquico de organização - é tudo na horizontalidade, na colaboratividade, presente nos diversos coletivos que vemos por aí. A concepção do Centro de Referência, no entanto, como me explicaram as fontes ligadas ao Governo Anastasia de Minas Gerais, seria de um grande hub, que a partir dessa estrutura as demais seriam fomentadas - o que cabe dizer, por extensão, que os demais Centros Culturais ficariam interligados com o Centrão. Sendo o Centrão esse grande hub, pensem numa analogia com a informática: se não chega o sinal da internet no seu roteador, todos os computadores que estão a ele ligados cairão (caso estivessem conectados). Por conseguinte: conceber o CRJ como um difusor de demandas pode atravancar os demais Centros Culturais, como pode culminar no seu sucateamento definitivo - oras, se o Centrão é tão melhor que o meu Centrinho, para que eu vou fazer as coisas aqui se posso fazer lá? Um fator positivo é que podem ser reunidos jovens de vários lugares, mas mais negativo é você realizar uma ação que implique na quebra de um processo anterior, conquistado a duros suores.


(Não, eu não vou comparar o CRJ daqui com o CRJ de São Paulo, que foi a inspiração direta e imediata para a ideia ser implementada aqui. São Paulo e Belo Horizonte vivem realidades diferentes, não cabe comparar. Por mais que a ideia do Centro de Referência daqui seja um puro Ctrl C + Ctrl V do de Sampa.)


O que seria mais lógico em um momento como este: investir uma grana em um provável equipamento que, caso não seja bem gerenciado, vire um monumental elefante branco ou estimular as ações e os centros já existentes em todas as nove regionais da cidade? O Centrão é uma obra a olhos vistos, os centrinhos são mais localizados e interferem mais diretamente nas suas respectivas comunidades.


A ação agora é: já que a Prefeitura instalou 33 centrinhos, não seria bom torná-los independentes e interligados? Não seria esse o real conceito de rede, em vez de um difusor central que vai irrigar água para os outros pontos? E se o difusor falhar, quem vai irrigar?


Sobre o Centro de Referência da Juventude, teremos uma audiência pública sobre o projeto. Dia 19 de outubro, 4a feira, 13h30, na Câmara Municipal de BH - Av. dos Andradas, 3.001, Santa Efigênia. É para todos irem.


UPDATE: digitando "centro de referência da juventude bh" no Google, a primeira opção que aparece é o site da ONG Contato.

BHTRANS e Prefeitura abrem portas e janelas para o transporte particular

AGÊNCIA PEDREIRA - A empresa de transporte urbano de Belo Horizonte, também conhecida como BHTRANS, caminhou mais um passo para a consolidação do transporte particular e individual em Belo Horizonte. No último dia 1º de setembro, os quadros de horários das linhas da capital foram modificados.

Segundo fontes ouvidas pela Agência Pedreira de Notícias (APN), tal alteração nos quadros resultou na redução da quantidade de ônibus que circulam nos horários de pico. "A empresa quer, sistematicamente, reduzir os horários para que haja mais veículos particulares circulando pela cidade", informou a fonte. Outro fator para a modificação é o prejuízo que as empresas estão tendo. "O lucro delas, que costumava ser de 80%, passou para 79,99%. É uma sacanagem, visto que são essas empresas que mantém o transporte vivo e circulante", falou uma fonte ligada ao Consórcio Dom Pedro II, composto por mais de dez concessionárias.

Em vigor desde o final do ano passado, a contínua reestruturação dos horários tem em vista a redução dos espaços vazios nos coletivos da cidade. Apurações da APN concluem que mais de cinco reduções foram realizadas, contemplando 1,5 milhão de usuários de carros particulares. "Claro que tem que reduzir os ônibus na cidade; tem muito ônibus e, assim, só consigo andar pela cidade de helicóptero", observou o empresário Carlos Teixeira, proprietário de uma concessionária.

Tal medida, de certa forma, dialoga com a diretriz do atual administrador da cidade, sr. Márcio Lacerda, de fomentar o transporte por meio de táxis de luxo. "Dez táxis desse podem substituir um coletivo vazio; daí, vamos investir para que haja mais táxis pela cidade e menos ônibus", afirma o gestor público.

Ônibus do sistema público de transporte de BH - provavelmente o 2004. Menos espaço, mais calor humano. Foto: Divulgação BHTRANS

Calor humano
Alguns usuários do transporte público aprovam a medida. "É bom, porque aí o calor humano no ônibus aumenta e, quanto tem aqueles dias frios, todo mundo fica mais juntinho um do outro", confessou Claudemir Agostinho, 37 anos, cobrador. "Vamos rodar com mais gente no carro, o que vai contribuir para a interação entre as pessoas", afirmou Antônio Augusto, 59, motorista.

Conforme relatado pelo site Ah!Cidade, aumentar a quantidade de ônibus é aumentar o caos. “Não faz sentido aumentarmos a frota, pois mais carros nas ruas significam maior disputa por espaço e, consequentemente, mais congestionamento”, afirma Raquel Gontijo, gerente de operações da BHTRANS.

"A nossa principal intenção é diminuir os espaços vazios dentro do coletivo. Fazendo com que o horário seja reduzido, trabalharemos para que o transporte trabalhe em sua capacidade máxima, gerando menos ônus para as empresas concessionárias", ponderou Ramon César, presidente da BHTRANS, administrador que trabalha com metas de "mais produtividade, menos ociosidade". "Haja vista que, nos horários de pico, ainda havia espaços vazios dentro dos coletivos, promovemos [BHTRANS, Prefeitura e consórcios] uma 'reestruturação' que irá adequar os espaços antes ocupados pelo vento ou pelo vazio", completou.