Neoliberalismo e Eufemismo: Irmãos de sangue
E enquanto isso, na festa do neoliberalismo ... A UNICEF tenta argumentar a importância de se investir na alimentação das crianças pobres, e o único argumento que pareceu crível à ordem mundial, é que se os países não o fizerem, terão aproximadamente 5% do PIB de gastos com a saúde em decorrência da desnutrição que se torna uma conseqüência de uma alimentação pobre
Enquanto isso, nas ruas da Argentina, uma mão solitária pixa um muro branco com os dizeres: “Combata a pobreza, coma um pobre!”. Isso remete em muito o pensamento dos defensores do sistema economia de mercado, nome artístico o qual se dá ao capitalismo. Aliás, nomes artísticos na sociedade capitalista neoliberal estão em alta, o mercado os criou para esconder a realidade, que embora exista, ninguém quer ver. De fato ela incomoda nossos olhos burgueses acostumados a nunca serem contrariados.
Vejamos, multinacionais é nome que se dá às empresas que atuam em muitos países, mas pertencem a poucos que monopolizam o dinheiro e a alta tecnologia. Ajuda externa, é nome que se dá ao impostinho que o vício paga à virtude, que os países pobres pagam aos países ricos. O que se sabe, todavia, segundo as Nações Unidas, é que os países pobres pagaram 10 vezes mais em montante de dinheiro, do que o valor que receberam dos países ricos. E a festa continua, pois em 1995, os dados levantados foram que nesse ano, a África concentrava cerca de 75% dos casos de AIDS do mundo, mas só receberam cerca de 3 % da ajuda externa para o controle da peste. Ademais subdesenvolvido é o nome que se dá aos países que possuem seu crescimento subordinado ao crescimento de outros mais ricos.
E por fim, Cleptomaníaco são os ladrões de boa família. O curioso, de fato, é como o eufemismo existe em abundância no império capitalista. Os EUA, representante legal da “economia de mercado” e supra sumo no que tange à população carcerária (a maior do mundo), construíram um muro entre a divisa com o México para impedir a entrada de mexicanos pobres no tio sam. Isso para deixar bem claro que o privilégio de trocar de país é só para quem tem dinheiro. Para não parecer muito violento, o presidente Bush declarou que o muro seria pintado de salmon, e nele se colocariam azulejos com arte infanto-juvenil e buraquinhos para que se possa enxergar do outro lado.
Ah sim! Quase me esqueci, latino-americano é a classificação atribuída aos habitantes da América que são descartáveis. Isso porque são pobres, e burros. Mas não são burros porque são pobres, mas são pobres porque são burros, uma vez que a pobreza não é mais fruto da injustiça, mas sim o justo castigo que a ineficiência merece. A injustiça é cada dia mais um conceito longínquo e vago, mas ela provavelmente deve ser culpa da pobreza que produz mão de obra barata em excesso, e o Liberalismo, essa beleza idealizada por Smith? Ia perder essa bocada?
Fonte de inspiração: "De Pernas pro Ar: A Escola do Mundo ao Avesso". De Eduardo Galeano