Aproveitando a discussão sobre a Praça da Estação, que já estamos fazendo aqui exaustiva e ostensivamente, não pude me furtar a comentar a notícia abaixo.

Jornal O TEMPO, 28 de setembro de 2009, 1º Caderno. Clique para ampliar.




Algumas pessoas diriam que essa "revitalização" é benéfica. Outros, que é uma forma espúria de se limpar o Centro de Belo Horizonte. Analisemos os fatos cautelosamente:

A Rua dos Guaicurus, hoje, é um lugar no qual se pode passar de dia, mas temeroso à noite. Uma vez, indo do Minas Shopping até a Praça da Estação, peguei o 3502 e desci na Rio de Janeiro com av. Santos Dumont; a treta é sem noção de tensa - todos já sabem que essa avenida já não é benta de dia, que dirá à noite.

Mas uma coisa que eu percebo naquela região é algo relacionado ao famoso Efeito Dominó: uma coisa que puxa outra, que puxa outra - e assim indefinidamente. Se hoje a Santos Dumont, a rua Curitiba, a rua São Paulo, a Rio de Janeiro, a Espírito Santo (onde por muito tempo ficou a Fac. de Engenharia da UFMG)... ou seja: se todo o Baixo Centro é o que é hoje, é resultado de um abandono e esquecimento graduais por parte de quem deveria ter carinho com aquela parte, a Prefeitura. Este órgão considera a região um lugar de mendigos, putas, traficantes e fezes. Porque ela mesma se esqueceu de limpar.

Eu creio, na minha vã filosofia, que só porque um hotel seis estrelas vai para lá que a região toda não sofrerá mais o subdesenvolvimento. O que vai acontecer é simples: uma expulsão coletiva de quem trabalha e frequenta aquela boemia. É capaz de ali ficar tinindo, lindo e maravilhoso, mas não é assim que tem que ser. As prostitutas ficarão sem onde bater o ponto (feio isso, né? Eu sei...), e ficarão mais pobres. E viverão mais à margem. E serão excluídas, assim como os donos das "boates". Para quem está de fora, parece que não vai afetar, ou vai só melhorar. Não é por aí.

O que a "Guaico" (como eu carinhosamente apelidei aquela zona) precisa é de uma sobrevida. De um amparo. Não de uma demolição para alocar estranhos à área. Será que não dá pra fazer algo que não fosse tão destrutivo? Que pudesse preservar minimanente a história da rua?

(Se a Prefeitura sequer pensar em fazer isso com Santa Tereza, por exemplo, estaria ela lascada. Enquanto isso, LagoinhaBonfim e São Cristóvão seguem, abandonados e ao relento.)

A revitalização que coloco em pauta aqui não é essa da reportagem. Eu quero, um dia, poder voltar de Sabará de madrugada e descer do 4988 na Guaico sem ter medo de ser abordado e roubado. É isso que eu quero, não precisa de um hotel segregacionista para limpar a horda pública. Não vejo com bons olhos trocar os puteiros por hoteis de luxo. A putaria - que me perdoem os mais pudicos - vai continuar, só que institucionalizada de vez - e agora, passará às mãos dos grandes cafetões. A opressão da puta pobre. A dor do pequeno cafetão.

Essa atitude, fica parecendo aos meus olhos, se soma ao que a Prefeitura de BH anda fazendo. Como aquela clássica música do Grupo Molejo: "Diga aonde você vai, que eu vou varrendo..."; varrendo tudo para onde a vista não alcança. Eles só esqueceram de um detalhe: em BH, de qualquer ponto mais alto você vê toda (ou quase toda) a cidade. Não dá para esconder para onde foi a sujeira e os renegados e excluídos.

Eu Amo BH Radicalmente e Provo. Prova? Então me faz um favor: me dá um pouco de dignidade à Guaico. É disso que ela precisa.