Havia eu me encontrado com alguns amigos na região do Ouro Preto, Pampulha. Era meia noite quando decidimos ir embora. 

Eu estava de carona (assim como um casal de amigos meus, que iam no banco de trás), quando passamos pela Av. Antônio Carlos. Era dia de Axé, e uma blitz era realizada na avenida, em frente à Brasvel, sentido Centro. 

Percebemos o afunilamento do trânsito e deduzimos: era uma operação policial. Ao se aproximar da blitz, exclamei a todos do carro, em tom de "Todo Mundo Odeia o Chris": 

- Quer ver que só porque sou preto eles vão parar o carro?

Havia três carros à nossa frente. Os três liberados, o nosso parado. Caixa! A profecia se cumpria. Detalhe para a mão do policial no coldre da arma. Um outro acompanhava, com uma... escopeta. Não sei se era realmente, mas com certeza o calibre era grosso. Ui!

Indignado, nervoso (eu sempre fico nervoso em blitz, vai saber o porquê), mas ao mesmo tempo achando graça da palhaçada, fomos abordados. E nos foi solicitado que saíssemos do carro. Era uma dupla de PMs que realizava a operação.

Fazia frio, ventava, mas resolvi brincar com a situação: ficando nu da cintura para cima (mesmo sem ainda ter sido solicitado), tirei a blusa e coloquei no teto do carro. Desabotoei a minha camisa e a joguei ao lado da blusa. Por pouco, mas por muito pouco, não desabotoei o cinto - mas fiz menção: encarando o gambé, indaguei: "precisa que eu tire as calças?" "Não", ele respondeu, "mas levanta a barra da calça, por favor". Por favor. Sei.

Sem encostar as mãos (diferente das outras batidas que tomei, sempre de madrugada e desejoso de retornar para casa, correndo atrás de ônibus ou o esperando no ponto), solicitou o guarda que me recompusesse. Daí, conversando com meu outro amigo (o que não dirigia, pois este estava mostrando o carro ao outro guarda), comecei a contar - em alto e bom tom - das outras situações nas quais havia eu tomado geral. E de uma em particular, que não se concretizou como geral:

- Sabe, teve um dia que eu passei de carro com dois amigos, todos os dois pretos. Passamos perto de uma blitz e não fomos parados nem nada. Sabe, eu até estranhei: "uai, três pretos num carro e policial não parou a gente? Tem alguma coisa errada..."

Sem graça de terem ouvido isso, os políciais nos liberaram rapidinho.

Essa é a nossa PM. Ela é assim aqui em Belo Horizonte, em Minas Gerais e no País. É um movimento recíproco: se ela julga os livros pela capa, estereotipando os cidadãos em categorias, assim fazemos, num movimento de vai-e-volta. Ou vai me dizer que você se sente mais seguro por existir mais policiais nas ruas?

"Eles estão fazendo o serviço deles", diria você. Sim, um serviço esse deveras relevante, de apontar o dedo a um tipo típico como "portador" de uma identidade negativa. O problema não está no trabalho deles, mas como se utilizam dele para reforçar um status quo - que, se não for contestado, assim ficará ad eternum