(fonte: Tribuneiros.com - Carlos Andreazza)


Então se celebra o centenário de Tancredo Neves… E eu não resisto. Este senhor, mito da tal conciliação nacional, na verdade chaga de um país que não se confronta, tem de ser sempre lembrado e responsabilizado pelo egoísmo absoluto que nos legou José Sarney, o pior presidente da história da República.

Por quê?

Em janeiro 1984, um ano antes de eleito, Tancredo Neves, amarelo de tão empalamado, já era um homem morto. M-O-R-T-O. E é farsa estarrecedora esta segundo a qual teria adoecido de súbito e de forma avassaladora, uma vez que padecia - há anos! - de febre constante, reflexo de uma progressiva e corrosiva infecção que camuflava com injeções diárias e medicamentos mil.

Tancredo, obcecado pela presidência [que julgava seu destino por consignação do Senhor], comprometendo pelo silêncio uma equipe médica que lhe contava as horas, comprometendo pela mentira milhões de cidadãos que lhe eram fiéis e lhe tinham por esperança, queria ser presidente a qualquer custo - custo, alto, que pagamos nós, brasileiros, ou terá sido pouco que a relargada democrática do país se tenha dado sob bandeirada de José Sarney?

Adiante…

O tempo passa - generoso… - e se consolida como inquestionável e fundamental o papel de Tancredo Neves, o Egoísta, na consagrada transição democrática brasileira, mormente no episódio das Diretas já, ao qual está incrivelmente associado.

Mais uma farsa monumental, embora não se lhe possa negar a atuação inquestionável e, como não?, fundamental. Explico. Ao contrário do que prega e vende a história romântica do Brasil, Tancredo Neves trabalhou o tempo todo e sem dó - nos bastidores, como lhe era típico - para dinamitar as possibilidades de uma eleição direta, que não lhe convinha. (Uma rápida pesquisa nos jornais da época deixa tudo claríssimo: Tancredo queria o colégio eleitoral, onde - estava certo - devoraria Paulo Maluf)… O então governador de Minas Gerais - tão genial articulador político quanto débil e preguiçoso administrador público - subia aos palanques do país para figurar, para sair na foto das Diretas e multiplicar simpatias, mas descia escondido [não raro desonrosamente agachado no automóvel] às garagens do Congresso [e da península dos ministros…] para costurar a inacreditável aliança [a que, entre outras terríveis conseqüências de efeito retardado, deixou-nos o PFL de Antonio Carlos Magalhães e Jorge Bornhausen] que o faria imbatível num pleito indireto.

E o racicíonio-questão é muito simples: tivesse Tancredo Neves verdadeiramente se dedicado às Diretas Já, tivesse ele todo esse amor democrata pelo sonho encampado à voz de Osmar Santos, e quem estaria por trás da longa e complexa trama, aberta logo depois das eleições de 1982 e aprofundada ante a tibieza de João Figueiredo [frouxidão agravada pelo coração fraco], que deslocou um visionário José Sarney, de presidente do partido do governo [PDS] em abril de 1984 [curiosamente, o mesmo mês em que a emenda Dante de Oliveira seria rejeitada…], para a liderança da Frente Liberal [embrião do PFL e sustentáculo decisivo para a vitória de Tancredo] em agosto daquele mesmo ano e, logo depois, em outubro, ao posto de vice na chapa encabeçada pelo MDB?

Tancredo Neves, sujeito que labutou com ganas pelo inclemente tombo da emenda Dante de Oliveira no parlamento, precisa ser sempre lembrado; mas como o político que granjeou a simpatia do brasileiro pela causa das Diretas para, sempre com o mesmo sorriso sem dentes, cravar-lhe ao peito a frustração do colégio eleitoral - símbolo de homem público que sacrificou o país [que o atrasou em, o quê?, uma década] em função de interesses e vaidades pessoais.

Tancredo Neves talvez fosse um democrata, mas daquele jeito bem petista de ser: “democrata, sim, mas desde que não me atrapalhe”.

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Aliás, há um livro formidável a respeito, difícil de se encontrar…, escrito por um grupo de jornalistas, entre eles um jovem Ricardo Noblat: O complô que elegeu Tancredo.


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Nota do blogueiro: o livro acima citado nem é tão difícil de achar. Só dar uma procurada no Estante Virtual que vários sebos do país têm exemplares da publicação.

Nota do blogueiro 2: Tancredo Neves esteve nos Trending Topics Brasil do Twitter. O que o neto Aécio não faz, hein...

Nota do blogueiro 3: Agora sei de onde o Aécio tem a cisma de querer ser presidente. Será que ele morre antes de assumir, igual ao avô? Não sei, vai depender da carreira, se é que vocês me entendem...