Os 10 Mandamentos da Imprensa no Período Eleitoral
Regras. Todos precisamos de regras. Afinal de contas, sua ausência nos levaria ladeira abaixo direto à várzea pantanosa da barbárie, não é mesmo? Por isso mesmo, o Blog do Sakamoto traz a quarta aula do seu Curso de Jornalismo Prático colocando no papel regras para cobertura eleitoral que, apesar de serem amplamente conhecidas por jornalistas, não foram até agora publicadas. Talvez por falta de recursos para impressão. Mas como Moisés usaria um spam para divulgar os mandamentos se hoje vivesse (economizando as tábuas de pedra, preservando, assim, a natureza), um blog está de bom tamanho para o registro.
O Curso é elaborado em conjunto com amigos que são grandes repórteres e conhecem como ninguém o universo das redações, o funcionamento da mídia e os botecos que vendem pastel, sarapatel e buchada onde os candidatos se refestelam, ao tentar mostrar que, apesar de não parecer, são sim gente do povo.
Registre-se que nem toda a imprensa segue esses mandamentos. Mas, também se registre que eles não são monopólio de um grupo que segue determinada ideologia, portanto as regras valem onde couberem.
Os 10 Mandamentos da Imprensa no Período Eleitoral
1 – Deve existir, pelo menos, um colunista fixo livre para fazer insultos, propagar preconceitos, soltar impropérios publicar boatos. Os textos desses colunistas não precisam ter relação com os fatos. Eles também não precisam responder por aquilo que assinam. Basta que escrevam com empáfia e mostrem comportamento arrogante diante de qualquer tentativa de diálogo.
2 – Fica estabelecido, em consonância com os interesses da maioria esmagadora da população brasileira, principalmente a parcela mais humilde, que o maior problema do Brasil durante as eleições é o Irã. O segundo maior é o Chávez. E o terceiro maior é a carga tributária.
3 – Os outros três problemas mais urgentes da nação são, pela ordem, 1) a falta de independência do Banco Central; 2) a presença de sindicalistas nos fundos de pensão; 3) o Márcio Pochmann continuar no Ipea.
4 – Será ignorada toda reclamação contra matérias mal apuradas, trabalho preguiçoso, reportagens parciais, cochilada no “pescoção”, dados incorretos e previsões não confirmadas. No limite, serão classificadas como “grave atentado à liberdade de imprensa” ou “impostura de um leitor militante de partido de esquerda/direita”.
5 – Dar-se-á imediata repercussão a toda denúncia veiculada por revistas semanais, independentemente do texto ter sido requentado, montado com evidentes erros de apuração ou estar em contradição com textos anteriormente publicados pelas próprias revistas.
6 – É terminantemente proibido dar declaração de apoio explícito a um candidato. O apoio velado, contudo, é permitido desde que em consonância com a escolha empresarial do veículo de comunicação.
7 – Nenhum candidato será verdadeiramente pressionado a se posicionar a respeito de qualquer projeto concreto de interesse dos assalariados ou dos mais pobres em entrevistas, debates, artigos ou editoriais. Temas como redução da jornada de trabalho, aumento da licença maternidade, taxação de grandes fortunas, correção dos índices de produtividade da terra, defesa do Código Florestal, entre outros, devem ser tratados como polêmica ou tabus.
8 – Toda reportagem longa a respeito da história, das idéias ou das propostas de candidatos não católicos deverá ressaltar suas crenças e apontar possíveis conflitos entre a religiosidade do candidato e o interesse público. Reportagens sobre candidatos católicos ou ateus que se declarem católicos estão dispensadas disso, uma vez que esta é a religião oficial do Estado laico brasileiro.
9 – Ganhará pontos o candidato que garantir ao repórter uma das seguintes aspas: “o meu governo vai aproveitar esse período de vacas gordas para fazer as reformas que o Brasil precisa, cortando custos”, “a CLT precisa ser atualizada e vamos trabalhar nisso” e “a Anistia foi para todos, portanto, não vamos mexer no passado”. Os pontos podem ser trocados por um close simpático e sorridente do candidato na matéria em questão ou por um Pirocóptero sabor morango.
10 – Reportagens a respeito dos programas de governo serão sempre enriquecidas com comentários de diversos especialistas, considerando a pluralidade de pesquisadores e estudiosos que se debruçam sobre diferentes temas. Por exemplo, em matérias sobre geopolítica, relações internacionais, História, democracia, diplomacia, república, capitalismo, socialismo, eleições americanas, Irã, Tabeban, Leste europeu, Afeganistão, cotas, ONU, Justiça, sociologia, OEA, Cuba, Tarso Genro, loteamento do Estado, Apartheid, Mercosul, Foro de São Paulo, Chávez, Estado policialesco, CUT, Farcs, gás na Bolívia, Polícia Federal, MST, Petrobras, dossiês, liberdade de imprensa ou Yoani Sánches, ouvir sempre o geógrafo Demétrio Magnoli. Na dúvida, consultar o Disk Fonte, das aulas 1 e 2 deste Curso Prático.
This entry was posted on October 4, 2009 at 12:14 pm, and is filed under
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