Água no feijão que chegou mais um!

Jorginho do Império gravou um samba na década de 70 cujo verso inicial era exatamente esse do título. Pus esse título não foi à-toa.


Hoje, 4 de junho, entrou no ar o site do Movimento Ocupe Câmara, surgido no final de 2011 e que tem por principal objetivo fiscalizar o nosso Legislativo Municipal. Acho que é a primeira vez que a Câmara Municipal de BH passa por algo tão 1984 quanto esse. Haja Big Brother, amigo.


Só que, neste caso, o Big Brother não zela pela casa, mas pela população. O site será um espaço de compartilhamento em público dos recentes acontecimentos da Câmara, além de servir de espaço de opinião e cadastro para voluntários que queiram participar do movimento.


Conheça o site: ocupecamara.org

O povo não é mais aquele...

Graças a uma pressão popular sem precedentes, os vereadores de BH desistiram oficialmente ontem de aumentar seus próprios salários em quase 62% numa canetada só. Por causa do voto secreto, 10 vereadores votaram pela derrubada do veto. Perguntados anteriormente se o fariam, 30 dissera que manteriam o veto e apenas 1, o vereador Leonardo Mattos, assumia a defesa do aumento. A sessão, claro, foi tumultuada. As galerias da câmara estavam cheias e os vereadores marcaram para o mesmo dia a apreciação do veto da prefeitura a um projeto de lei que beneficiava os jornaleiros da cidade. Esta semana também a Câmara aprovou um projeto de lei, que sabe inconstitucional, e enviou ao prefeito, garantindo gratuidade nos estacionamentos de shoppings e padarias da cidade. Era uma tentativa de agradar à população. Não colou! O plenário vaiou sonoramente o presidente da casa, vereador Léo Burguês, a aponto de ele ter que abandonar a presidência da sessão e só voltar para votar. Mas a vaia mais contundente ele levou quando tentou comemorar junto às galerias a manutenção do veto, como se esse fosse a sua posição desde sempre. Os manifestantes entenderam claramente que ele tentava, assim, fazer sua uma vitória que era do povo.Ponto para o vereador Leonardo Matos do PV que manteve a sua posição até o fim. Ele se disse favorável ao aumento desde o início e, apesar da covardia da votação secreta, deixou claro pra todos a sua posição. Errada, na minha opinião, mas isso é uma coisa pra ele resolver com os seus eleitores.O melhor de todo esse episódio é que ficou claro para os nossos bravos edis que a população não é mais aquela (alvíssaras!)… Graças à mobilização das redes sociais, vimos ontem (9/2/12) na câmara de BH a mais pura manifestação política. Estamos enfim evoluindo politicamente e nos tornando merecedores da democracia, um regime político que vai muito, muito além do voto. 

Marcelo Guedes - CBN BH
Fonte: http://glo.bo/yEnfED

Veto mantido. Ou do oportunismo do Léo Coxinha

Sim, eu estive à Câmara ontem, acompanhando a plenária que iria discutir o veto ao reajuste de 61,8% ao salário dos vereadores de Belo Horizonte. Há muita coisa aqui que eu poderia citar e me delongar (como uma provável coronelagem de um grupo que estava lá na plenária, arregimentado por um certo vereador - que não vou citar o nome por medo, mesmo!), mas vou focar na discussão sobre o veto.

A 7ª sessão ordinária da 16ª legislatura da Câmara Municipal de BH começou pontualmente às 15 horas. Detalhe que para iniciar os trabalhos um trecho da Bíblia foi lido, causando furor dos aproximadamente 400 manifestantes que lá se encontravam. Estado laico lendo trecho bíblico em sessão legislativa é, no mínimo, proselitista. Mas sigamos adiante.

Léo Burguês (PSDB), a coxinha da vez (ui!, rimou), apareceu para presidir a plenária. Não ficou nem dez minutos e se retirou, delegando a presidência para o Alexandre Gomes (PSB). Foi uma sessão tumultuada, com vários protestos e gritos - em vários momentos a "Coxinha da Madrasta" foi entoada.

Vou citar alguns momentos-chave da plenária:

- Vereador Márcio Almeida (PRP) dando um minuto de silêncio pela morte do Wando;
- Vereador Fábio Caldeira (PSB) sendo firme em dizer que a votação não deveria ser secreta, mas aberta - como em Rio e em São Paulo;
- Vereador Joel Moreira Filho (PTC) dizendo que "o único instrumento para defender a população de BH é o voto secreto";
- Vereador Iran Barbosa (PMDB) dizendo que é hora do Joel Moreira Filho "evoluir" quanto à questão do sigilo.

Enfim, somente estando lá para sentir a pressão que foi.

Hei de fazer um aparte aqui por considerar o vereador Leonardo Mattos (PV) por manter a sua posição firme. Eu não concordo em absoluto com a sua posição de querer reajustar o salário, mas pelo menos ele foi homem o suficiente para aguentar a pressão e continuar na sua posição. Firmemente.

O veto foi mantido por 21 votos a 10. Estavam 36 vereadores presentes - não votaram Edinho "do Açougue" Ribeiro, Toninho Pinheiro (ambos do PT do B), Preto (DEM), Pricila Teixeira (PTB - engraçado que, por mais que seu nome estivesse como "presente" na lista, não a vi em nenhum momento) e Moamed Rachid (PDT, idem ibidem).

Sim, as redes mobilizadas puderam dar um direcionamento diferente à discussão do reajuste. A população - auxiliada pela grande mídia que anda, ao que parece, querendo ter uma cobertura diferenciada em relação à Câmara - foi um dos pilares da mudança.

Próximo passo: acompanhar as plenárias de 2012, para ver se nada absurdo irá passar aos nossos olhos.

De coxinhas a chapéus

Saiu sexta-feira no Mercado Web Minas.


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012


SITE PROMETE VIGIAR OS VEREADORES DE BELO HORIZONTE


No ar desde o dia 1º de fevereiro, o site www.naovaiderrubar.com pretende controlar os vereadores de Belo Horizonte. A iniciativa visa fazer com que o veto do prefeito Márcio Lacerda (PSB) ao projeto de aumento salarial de 61,8% dos vereadores da capital seja mantido. Isso porque os parlamentares municipais pretendem realizar nova votação, dessa vez secreta, deburrando o veto do prefeito.

Apesar de se auto intitular um movimento apartidário e do site não mencionar quem ou qual empresa o mantém, a newsletter sobre o site foi enviada por Saulo Azevedo, da Turma do Chapéu, braço extra-oficial da Juventude do PSDB mineiro.



Estaria o PSDB mineiro deixando Léo Burguês, do mesmo partido, de lado? Ou, com a iniciativa, o partido quer dar mais visibilidade para o veto de Lacerda, pré-candidato à reeleição que conta com o apoio do PSDB?

Tirando a questão partidária de lado, a iniciativa é interessante, pois é mais um canal que dá voz ao cidadão. O site conta com notícias sobre o andamento das votações, informações sobre os vereadores e um abaixo-assinado contra o aumento.



Centro de Referência da Juventude de BH: uma crítica

Bom... Esse assunto tem rendido uma boa discussão. Quem está diretamente envolvido com as conversas sobre as Juventudes de BH, sabe que o Centro de Referência é um assunto que tem gerado controvérsia.


Em diversos encontros que tive com lideranças governamentais, foi-me assegurado que esse Centro seria um espaço de fomento à diversidade artística e cultural do jovem da região metropolitana. Com um orçamento de construção previsto de R$ 15 milhões, o CRJ ficaria situado onde hoje é o Miguilim (entre o Viaduto da Floresta e a Praça da Estação, no centro de Belo Horizonte). 


Pois bem. Faço uma crítica no que se refere à construção desse "centro" e na estratégia de se tentar "centralizar" as atividades juvenis que se encontram pulverizadas - e muitas vezes pouco incentivadas, sendo feitas NA TORA - tentando alocá-las em um espaço. É simples, não precisa de desenho.


Nossa Prefeitura e nosso Governo do Estado têm um pequeníssimo defeito: de chegar impondo demandas e, quando são demandados, de se vangloriarem por executarem tais feitos, que eram ânsia da sociedade civil. Não é o caso do CRJ, que foi um projeto aprovado na Conferência Municipal de Juventude de 2008, salvo engano. Mas vou-lhes ser sincero: o modelo de conferência como espaço de participação que estamos utilizando é defasado: reúnem-se vários jovens (inclusive, muitos com idade inferior ao permitido no regulamento) que estão pouco situados das questões discutidas, que não foram levados a pensar as questões que estão na mesa e que estão lá apenas para cumprir a tabela do Estado como "olha só, a conferência deu quórum". A tática dos "ônibus lotados" ainda impera - e foi em uma conferência dessa que saiu a aprovação do Centro de Referência. Fico em dúvida quanto à real efetividade de um sistema de participação como esse - e das demandas que de lá saem, mesmo as que são arduamente discutidas. Mas deixo isso para outro momento.


Você me perguntaria se "esse centro não seria coisa boa". No nosso momento atual, negativo.


Em Belo Horizonte, priorizou-se a cultura da descentralização para poder levar aos bairros mais afastados a possibilidade de nesses locais ocorrerem apresentações artísticas, culturais, momentos educacionais etc. Estou falando dos Centros Culturais - como o do São Bernardo, do Urucuia, da Vila Marçola etc. São espaços que foram pensados para descentralizar as ações culturais e dar oportunidade à comunidade de mostrar o seu potencial e de ver coisas novas. Só que temos que lembrar que quem está "dirigindo" o bonde  do 1212 não é uma pessoa sensível às causas da cidade, mas, sim, um senhor deveras preocupado com metas. Típico comportamento empresarial que é nefasto à uma cidade que tem necessidades diversas. A situação dos Centros Culturais não é a das melhores - são 33 centros espalhados pela cidade, que contam com um orçamento de mais ou menos R$ 100 mil. Para os 33 centros! 


Ainda que haja essa falta de grana nos Centros Culturais, existe uma galera que se apropria desses espaços, mobilizando o seu lugar para frequentar o equipamento. As juventudes não têm um viés hierárquico de organização - é tudo na horizontalidade, na colaboratividade, presente nos diversos coletivos que vemos por aí. A concepção do Centro de Referência, no entanto, como me explicaram as fontes ligadas ao Governo Anastasia de Minas Gerais, seria de um grande hub, que a partir dessa estrutura as demais seriam fomentadas - o que cabe dizer, por extensão, que os demais Centros Culturais ficariam interligados com o Centrão. Sendo o Centrão esse grande hub, pensem numa analogia com a informática: se não chega o sinal da internet no seu roteador, todos os computadores que estão a ele ligados cairão (caso estivessem conectados). Por conseguinte: conceber o CRJ como um difusor de demandas pode atravancar os demais Centros Culturais, como pode culminar no seu sucateamento definitivo - oras, se o Centrão é tão melhor que o meu Centrinho, para que eu vou fazer as coisas aqui se posso fazer lá? Um fator positivo é que podem ser reunidos jovens de vários lugares, mas mais negativo é você realizar uma ação que implique na quebra de um processo anterior, conquistado a duros suores.


(Não, eu não vou comparar o CRJ daqui com o CRJ de São Paulo, que foi a inspiração direta e imediata para a ideia ser implementada aqui. São Paulo e Belo Horizonte vivem realidades diferentes, não cabe comparar. Por mais que a ideia do Centro de Referência daqui seja um puro Ctrl C + Ctrl V do de Sampa.)


O que seria mais lógico em um momento como este: investir uma grana em um provável equipamento que, caso não seja bem gerenciado, vire um monumental elefante branco ou estimular as ações e os centros já existentes em todas as nove regionais da cidade? O Centrão é uma obra a olhos vistos, os centrinhos são mais localizados e interferem mais diretamente nas suas respectivas comunidades.


A ação agora é: já que a Prefeitura instalou 33 centrinhos, não seria bom torná-los independentes e interligados? Não seria esse o real conceito de rede, em vez de um difusor central que vai irrigar água para os outros pontos? E se o difusor falhar, quem vai irrigar?


Sobre o Centro de Referência da Juventude, teremos uma audiência pública sobre o projeto. Dia 19 de outubro, 4a feira, 13h30, na Câmara Municipal de BH - Av. dos Andradas, 3.001, Santa Efigênia. É para todos irem.


UPDATE: digitando "centro de referência da juventude bh" no Google, a primeira opção que aparece é o site da ONG Contato.

BHTRANS e Prefeitura abrem portas e janelas para o transporte particular

AGÊNCIA PEDREIRA - A empresa de transporte urbano de Belo Horizonte, também conhecida como BHTRANS, caminhou mais um passo para a consolidação do transporte particular e individual em Belo Horizonte. No último dia 1º de setembro, os quadros de horários das linhas da capital foram modificados.

Segundo fontes ouvidas pela Agência Pedreira de Notícias (APN), tal alteração nos quadros resultou na redução da quantidade de ônibus que circulam nos horários de pico. "A empresa quer, sistematicamente, reduzir os horários para que haja mais veículos particulares circulando pela cidade", informou a fonte. Outro fator para a modificação é o prejuízo que as empresas estão tendo. "O lucro delas, que costumava ser de 80%, passou para 79,99%. É uma sacanagem, visto que são essas empresas que mantém o transporte vivo e circulante", falou uma fonte ligada ao Consórcio Dom Pedro II, composto por mais de dez concessionárias.

Em vigor desde o final do ano passado, a contínua reestruturação dos horários tem em vista a redução dos espaços vazios nos coletivos da cidade. Apurações da APN concluem que mais de cinco reduções foram realizadas, contemplando 1,5 milhão de usuários de carros particulares. "Claro que tem que reduzir os ônibus na cidade; tem muito ônibus e, assim, só consigo andar pela cidade de helicóptero", observou o empresário Carlos Teixeira, proprietário de uma concessionária.

Tal medida, de certa forma, dialoga com a diretriz do atual administrador da cidade, sr. Márcio Lacerda, de fomentar o transporte por meio de táxis de luxo. "Dez táxis desse podem substituir um coletivo vazio; daí, vamos investir para que haja mais táxis pela cidade e menos ônibus", afirma o gestor público.

Ônibus do sistema público de transporte de BH - provavelmente o 2004. Menos espaço, mais calor humano. Foto: Divulgação BHTRANS

Calor humano
Alguns usuários do transporte público aprovam a medida. "É bom, porque aí o calor humano no ônibus aumenta e, quanto tem aqueles dias frios, todo mundo fica mais juntinho um do outro", confessou Claudemir Agostinho, 37 anos, cobrador. "Vamos rodar com mais gente no carro, o que vai contribuir para a interação entre as pessoas", afirmou Antônio Augusto, 59, motorista.

Conforme relatado pelo site Ah!Cidade, aumentar a quantidade de ônibus é aumentar o caos. “Não faz sentido aumentarmos a frota, pois mais carros nas ruas significam maior disputa por espaço e, consequentemente, mais congestionamento”, afirma Raquel Gontijo, gerente de operações da BHTRANS.

"A nossa principal intenção é diminuir os espaços vazios dentro do coletivo. Fazendo com que o horário seja reduzido, trabalharemos para que o transporte trabalhe em sua capacidade máxima, gerando menos ônus para as empresas concessionárias", ponderou Ramon César, presidente da BHTRANS, administrador que trabalha com metas de "mais produtividade, menos ociosidade". "Haja vista que, nos horários de pico, ainda havia espaços vazios dentro dos coletivos, promovemos [BHTRANS, Prefeitura e consórcios] uma 'reestruturação' que irá adequar os espaços antes ocupados pelo vento ou pelo vazio", completou.

Política do NÃO!




A Fundação Municipal de Cultura anunciou, recentemente, sua decisão de não mais realizar o Prêmio Literário Cidade de Belo Horizonte, o mais antigo do gênero no Brasil. O anúncio só ocorreu depois que alguns intelectuais de Minas pressionaram o órgão para ter uma posição sobre o assunto. Houve também a informação de que a decisão fora tomada depois de consulta a uns poucos notáveis, que haviam opinado sua discordância quanto ao formato da premiação. Na decisão, na forma como se chegou até ela e no descaso com a informação ao público, temos exemplos incômodos de como a atual administração de BH vem tratando as questões da cultura.


A primeira coisa que salta aos olhos é: foi estabelecida uma política do “não”. Os órgãos culturais do município parecem saber exatamente o que não pretendem fazer. O problema é que nunca propõem algo para substituir o que cancelam, suspendem, adiam. O prêmio Cidade de Belo Horizonte não é o primeiro exemplo disso. Soubemos, nos últimos três anos, que a prefeitura não queria eventos culturais na Praça da Estação, não queria o FIT em 2010, não quer as tribos do hip-hop debaixo do Viaduto de Santa Tereza. O não, às vezes, é expresso não em palavras, mas nas omissões: são os recursos que deveriam constar no orçamento do município, mas não são incluídos nele, e sua ausência que resulta no sucateamento dos centros culturais regionais, ou no adiamento eterno da reforma do Teatro Francisco Nunes.

Quer dizer, então, que a prefeitura e a fundação não agem? Agem. Mas só quando pressionadas. Foi assim há poucos dias, com o decreto que declarou de utilidade pública para fins de desapropriação o imóvel do antigo Cine Santa Efigênia, onde funcionava o Lapa Multshow. A perda do prédio estava anunciada há meses. A prefeitura preferiu fingir que não era com ela. Só com pressão violenta da comunidade, principalmente dos agentes culturais, decidiu agir, talvez tarde demais, pois a demolição interna do edifício já fora iniciada. Outros exemplos recentes dessa posição reativa foram a implantação do Conselho Municipal de Cultura, arrancada a fórceps por pressão das entidades nos gabinetes e de manifestação nas ruas, e a realização do FIT 2010, que a fundação desejava cancelar. É como se o poder público só tivesse agenda negativa, a agenda positiva surgindo apenas do desgaste político.

A verdade é que a política cultural que vem sendo conduzida pela administração municipal parece temer as ruas. Quando não tem certeza se deve abolir algum programa, convoca notáveis e toma as decisões em gabinete. Foi assim com o Prêmio Cidade de Belo Horizonte, como se a questão fosse relevante apenas para algumas pessoas, e não para toda a classe dos trabalhadores na cultura ou toda a comunidade. No FIT 2010, o argumento foi o mesmo: assessores da fundação para o evento haviam recomendado seu adiamento para 2011, e com essa recomendação, pelo visto, não seria necessário conversar com a sempre turbulenta categoria teatral. Deu no que deu: manifestação popular na frente da entidade, a realização do festival na marra, contra a vontade da autoridade que tinha a obrigação de promovê-lo.

O pior de tudo é que se tenta acobertar todas essas péssimas formas de gerenciamento de órgãos públicos com o silêncio. Se dependesse da Fundação Municipal de Cultura, o cancelamento do Prêmio Cidade de Belo Horizonte ocorreria sem ninguém ficar sabendo. Simplesmente ele não existiria num ano, nem no ano seguinte, nem nunca mais. Mas os escritores atrapalharam essa estratégia de tentar minimizar, pelo silêncio, o desgaste que poderia resultar da decisão. No caso do FIT, o cancelamento foi anunciado, mas apenas como detalhe menor numa entrevista coletiva convocada para tratar de outro assunto.

É política ineficaz pela inércia e a reatividade; destruidora pela maneira como diz “não” sem propor alternativas; e elitista pelo apego à conversa de pé de ouvido e à decisão de gabinete. Navega, portanto, na contramão da modernidade da administração pública, que demanda ações transparentes, eficientes, propositivas e participativas. Por causa de tudo isso, a administração cultural de Belo Horizonte, em vez de ajudar a comunidade a construir sua versão do século 21, parece estar nos conduzindo de volta ao século 18.

Articulação #ForaLacerda

Não, não é mais um movimento. Não é um aglomerado de jovens e juvenis que, dizem, fazem "obaoba" por causa da gestão municipal do sr. Márcio Lacerda. The hole is deeper than 6 feet.


Há uma articulação acontecendo nas virtualidades da internet que agora ganha o campo físico. Autointitulado "Fora Lacerda", o movimento aglutina demandas de diversas camadas da sociedade descontentes com a austeridade exagerada do empresário-gestor. "Não acredite em mim", mas na Fórum. A notícia é do dia 30, e chamava para um evento pontual. Entretanto, considere as demandas levantadas.


As reuniões do movimento já têm acontecido. Várias frentes já foram elencadas. E, como eu disse, não é só um "bando de badernistas" que está por trás disso, mas a classe AB do bairros Santa Lúcia, Sion e Cruzeiro; a Feira Hippie; o setor da educação municipal; e por aí vai.




Lançado em Belo Horizonte o movimento "Fora Lacerda"


Começa a ser articulado, via Facebook, um movimento que pede o impeachment do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), homem de confiança de Aécio Neves também apoiado por setores do PT. A primeira reunião ocorrerá neste sábado, 02 de julho, às 11h, na Praça da Estação. Márcio Lacerda, apesar de ter ampla maioria na Câmara de Vereadores, vem enfrentando crescentes críticas pela truculência da Guarda Municipal, medidas higienistas como o confisco das posses dos moradores de rua, a proibição de manifestações públicas, o despejo de moradores, o projeto de demolição de um dos marcos da cidade (o Mercado Distrital do Cruzeiro), a venda de ruas para a especulação imobiliária e, mais recentemente, a entrega da presidência do Comitê Executivo Municipal da Copa do Mundo a seu filho, Tiago Lacerda. A página do protesto no Facebook continua recebendo adesões. 

O movimento pelo impeachment de Márcio Lacerda pretende, com essa primeira reunião, começar a acumular forças para um grande ato que realizaria em 31 de outubro. O protesto foi puxado por Tomás Amaral, morador do Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, membro do coletivo Criarte, e autor de um relato sobre o assassinato de um morador por polícias militares em fevereiro.  Mais de 4 mil pessoas já aderiram ao protesto no Facebook.
Já consolidado na internet está o movimento Salve a Rua Musas, que protesta contra a venda de 1.700 metros quadrados de espaço público que separam dois terrenos pertencentes à Tenco CBL-Serviços Imobiliários S.A. A venda possibilitaria a construção de um hotel de luxo na área e transformaria o restante da rua num beco fechado pelo prédio. A rua se localiza nas imediações de um maiores gargalos de tráfego da região metropolitana de Belo Horizonte, nas imediações do BH Shopping. Os moradores se mobilizaram e criaram um blog, que já sofreu um processo judicial da Tenco, que solicitava a remoção da página. A 5ª Vara Cível de Belo Horizonte só concedeu à construtora uma liminar que determinava a remoção de alusões a ela na página, medida já acatada pelos responsáveis pelo blog. O movimento “Salve a Rua Musas” também tem perfil no Twitter.
A relatora especial da ONU para a Moradia Adequada, Raquel Rolnik, incluiu a capital mineira entre as cidades que estão realizando despejos forçados que estariam violando os direitos humanos. Em resposta, o presidente do Comitê Executivo Municipal da Copa do Mundo e filho do prefeito, Tiago Lacerda, afirmou: “O que ela falou para a gente, não vamos nem considerar”.
O local dos protestos deste sábado, a Praça da Estação, já foi alvo de outras manifestações contra o prefeito, batizadas de “Praia da Estação”. Desde 2010, vestidos de roupas de banho e munidos de esteiras, cangas e outros apetrechos praianos, cerca de 200 estudantes ocuparam a Praça durante os finais de semana, em protesto contra o decreto municipal nº13.798 de dezembro de 2009, que proíbe a realização de eventos de qualquer natureza no local. O movimento é oficialmente ignorado pelo prefeito, mas nos bastidores preocupa Lacerda e seus aliados, que veem crescer na internet as páginas de protestos e críticas contra sua administração. Movimento semelhante para tirar do cargo a prefeita de Natal, Micarla de Souza (PV), começou timidamente nas redes sociais e rapidamente ganhou milhares de adeptos.
Profissionais da imprensa mineira tentaram noticiar a realização do ato Fora Lacerda deste sábado, mas foram silenciados pelo prefeito, no que já é uma característica conhecida das relações entre o Poder Executivo mineiro e a mídia, e que Márcio Lacerda agora transplanta também à prefeitura.

Arrependimento

Ouvi de uma fonte por esses dias:


A grana gasta na construção da Cidade Administrativa daria para construir toda a malha metroviária de Belo Horizonte. R$ 1,4 bi.


A fonte também considera absurdo o BRT, sistema paliativo que a Prefeitura de Belo Horizonte reverbera como "A" solução, custar 10% do que custaria o metrô. Como assim ônibus articulados e todas as obras de desapropriação darão ônus de 104 milhões de reais, questionou a fonte.


O meu contato ainda disse que, por causa dos excessivos gastos com a CA, haveria pessoas arrependidas de tê-la construído. 

Uma Prefeitura que não ouve

Há alguns meses, acho que desde o ano passado, eu tenho tido uma discussão desacertada com a Prefeitura de Belo Horizonte em seus perfis nas redes sociais, principalmente no Twitter. E não sou o único neste discurso.


Na contramão do que supostamente desejamos de um órgão público - que é transparência e presteza nas respostas quando perguntamos algo -, a @pbhonline - perfil da PBH no Twitter - resigna-se à insignificante tarefa de divulgar as benesses por ela cometida. Contato que é bom, somente via Fale Conosco - que também não é uma instância funciona, explico abaixo.


Há alguns dias, eu venho percebendo a evasão d'@pbhonline em responder algumas de nossas questões via Twitter. Diferente do perfil @governomg, do Estado, que me respondeu depois de mencioná-lo em um post, parece a PBH estar surda, muda e cega para nossos reclames nessa mídia social. E isso somente contribui para com a nossa antipatia a essa gestão atual.


Pelo Twitter, a PBH convidou os seus seguidores a curtirem a sua página no Facebook. Indaguei se haveria algum tipo de interação por lá, já que no Twitter não havia nada do tipo. A resposta veio por Mensagem Direta, escondida, nada transparente - que disponibilizo aqui:


"Prezado, para contato com a PBH, solicitar respostas e informações, o Sr. pode acessar os canais do Fale Conosco do site que é o mecanismo disponível ao cidadão exclusivamente para esse propósito. Estamos à disposição para qualquer outra orientação. Clique no link a seguir para acessar o Fale Conosco: http://ow.ly/563EG Att"


Me mandou ir ao Fale Conosco. Em vez de flexibilizar na comunicação com o cidadão, prefere continuar com essa absurda e burra burocracia contra tempos de web 2.0/3.0. Uma seguidora mencionou que não adiantava nada o Fale Conosco, que ninguém sabe dar o encaminhamento certo, e que na ouvidoria da PBH ninguém responde. (Concordo, enviei à Ouvidoria uma solicitação no mês de abril - já estamos em junho, e não tive retorno.) Eis que chegam novas DMs, que eu comento:


"Prezado, no Fale Conosco existem pessoas de áreas específicas para responderem acerca de assuntos específicos. Naturalmente, em qualquer instituição, pública ou privada, não existem profissionais e atendentes que saibam sobre todos os assuntos. Portanto, orientamos as pessoas que de fato buscam por esclarecimentos, que procurem esses canais específicos. Att, ASCOM-PBH"


Se uma empresa é competente, o setor de Comunicação encaminha ao órgão responsável e dá destino. Eu já trabalhei com isso e sei como funciona. Bem sei que a Ouvidoria não é obrigada a saber de tudo, mas quando não recebemos resposta das nossas demandas, trata-se de uma incompetência generalizada.


O que está ocorrendo é que o perfil @pbhonline está indo na contramão da interatividade midiática. Mesmo outros órgãos públicos - como o Ministério da Cultura (@culturagovbr) estabelecem contatos, esclarecem dúvidas e respondem reclamações VIA TWITTER! E o MinC, como se sabe, não é pequeno. Então, por que a burocracia absurda no contato com a PBH? Será medo de o estagiário dar uma resposta inadequada? Será que isso revela que a PBH se tornou, depois que o atual prefeito foi eleito, em mais uma empresa que só pensa em lucro e que não quer o retorno de seu cliente?


As redes sociais têm causado mais danos que o Procon.


O que eu quero que a PBH entenda é que "Fale Conosco" é UM DOS MEIOS para efetuar a Comunicação entre cidadão e órgão público. Se estamos em tempos de seguir interesses e curtir afinidades, por que não fazer como o Governo Federal, que "conversa" com os seus usuários em vários perfis nas redes?


Então, PBH, depois desse pequeno ensaio, você vai continuar nos ignorando ou prefere adotar uma postura de interação com os seus seguidores? Lembre-se que ano que vem tem eleição - e não queremos nossas timelines lotadas de propagandas de uma gestão que não nos representa - não a mim, pelo menos. 


PBH, ME OUVE!

Perueiros de volta às ruas

Uma reportagem que li hoje no site do Estado de Minas me deixou um pouco incomodado do ponto de vista de o quão rasos somos nós, jornalistas, em discutirmos certos assuntos. Principalmente temas "no que se refere" diretamente ao cotidiano do cidadão. Vejam bem.


A reportagem, parcialmente transcrita abaixo, fala da recorrente incidência de pessoas fazendo transporte dito clandestino de pessoas. Mas quero deixar destacada uma fala, em especial, abaixo grifada.


Um perueiro foi flagrado na manhã desta segunda-feira na Avenida Vereador Cícero Idelfonso [Delta], no Bairro João Pinheiro, Região Noroeste de Belo Horizonte. O soldado aposentado da Polícia Militar (PM), Lourival de Miranda, de 70 anos, foi abordado numa blitz quando transportava clandestinamente, num Santana Quantum, quatro pessoas para Sete Lagoas. Segundo a BHTrans e a PM, os passageiros pagaram R$ 12 para sair do Centro de Belo Horizonte com destino à cidade da Região Central de Minas.


(...) o Santana Quantum [carro de Lourival] é totalmente regular. Segundo o coordenador de fiscalização e combate ao transporte clandestino da empresa, Carlos Xavier, os perueiros estão preferindo, cada vez mais, usar carros de passeio para fugir da fiscalização. O carro de Lourival foi para o pátio da BHTrans e o motorista liberado.


A população se arrisca nesses veículos que são verdadeiras afrontas ambulantes à legislação de trânsito, à segurança dos passageiros e aos órgãos de fiscalização. Os perueiros invadiram, além de ruas da Grande BH, o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins. Os transportadores clandestinos que agem no terminal conseguem o licenciamento para continuar transitando com seus veículos, apesar de acumularem uma lista de multas.


Aí entra a minha pequena crítica.


O que nós, meros usuários do transporte urbano da Região Metropolitana de Belo Horizonte, podemos considerar como "verdadeira afronta"? Eu digo que, se um perueiro é considerado perigoso pelo transporte não-licenciado de pessoas, assim também é o transporte feito por ônibus supostamente regulado por BHTRANS e DER.


Digo supostamente porque parece que, nas nossas linhas, não há fiscalização. Não falo daqueles babacas da TRANSFACIL (os "Agentes de Gratuidade") que entram e saem dos ônibus apenas verificando se você vai pagar a sua passagem. Esses não contam, eles não verificam se o carro está em boas condições, se o motorista está cumprindo com a etiqueta necessária para a realização de um serviço público ou se a lotação é adequada para que todos fiquem confortáveis.


Quem acredita que BHTRANS realiza fiscalização no transporte de Belo Horizonte está mesmo iludido. Não sei se uma empresa que promove reduções drásticas em horários de linhas movimentadas é uma empresa que cumpre algum tipo de ética cidadã. Uma autarquia que é passiva, não resolve e que é sempre questionada "no que se refere" às suas atuações no trânsito não merece muito nossa fé. Assim como o DER, órgão que supostamente vigiaria o transporte metropolitano (os "vermelhões") para conforto, deleite e bom fruir de seus usuários. Ledo engano.


Estamos numa cidade na qual as concessionárias das linhas tratam os usuários como "clientes". Desde um dia que vi um "atenção, clientes da linha 8203", fiquei deveras incomodado, e como isso reflete na relação consumidor-provedor. Porque se uma reunião de pessoas é vista como clientela, esta pode demandar alguns direitos para si - inclusive, de pedir a devolução do dinheiro. Se eu sou cliente de um serviço público (concessionado por grupos de empresas particulares), convém dizer que eu tenho que estar satisfeito, ou receber meu dinheiro de volta. 


A população se arrisca em transportes clandestinos não porque ela quer viver a vida perigosamente - se eu morasse no Castanheiras e dependesse do 9030, aí sim eu viveria perigosamente. Eu frequentei por muito tempo o bairro Veneza, em Ribeirão das Neves. E entendo completamente a necessidade de as pessoas que ali moram ou frequentam de precisarem de usar a clandestinidade. O 6260 (antigo 1155) demora para passar; quando passa, vem lotado; se vem lotado, o motorista não para (às vezes, até apagam o letreiro, à noite, para que as pessoas não vejam qual linha que está chegando e não deem sinal); se não para, lá vamos nós esperar o próximo. Uma bola de neve que te faz sair de Belo Horizonte às seis e meia da tarde e chegar em casa três horas depois. 


O que a pessoa faz? Se tem uma grana, compra um transporte particular. Se não, ou se ensardinha nas latas de ônibus ou parte para os perueiros. Entendem que a situação é muito pior do que simplesmente afirmar que veículos clandestinos são afronta à legislação de trânsito? Se não, esquece; eu não sei desenhar.

De volta!

Os cães ladram, mas a caravana não para.

Monteiro Lobato, Ziraldo e o Racismo.

*Texto retirado do blog do professor José Luiz Quadors de Magalhães. 

Carta Aberta ao Ziraldo, por Ana Maria Gonçalves

Caro Ziraldo,

Olho a triste figura de Monteiro Lobato abraçado a uma mulata, estampada nas camisetas do bloco carnavalesco carioca "Que merda é essa?" e vejo que foi obra sua. Fiquei curiosa para saber se você conhece a opinião de Lobato sobre os mestiços brasileiros e, de verdade, queria que não. Eu te respeitava, Ziraldo. Esperava que fosse o seu senso de humor falando mais alto do que a ignorância dos fatos, e por breves momentos até me senti vingada. Vingada contra o racismo do eugenista Monteiro Lobato que, em carta ao amigo Godofredo Rangel, desabafou: "(...)Dizem que a mestiçagem liquefaz essa cristalização racial que é o caráter e dá uns produtos instáveis. Isso no moral – e no físico, que feiúra! Num desfile, à tarde, pela horrível Rua Marechal Floriano, da gente que volta para os subúrbios, que perpassam todas as degenerescências, todas as formas e má-formas humanas – todas, menos a normal. Os negros da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão, vingaram-se do português de maneira mais terrível – amulatando-o e liquefazendo-o, dando aquela coisa residual que vem dos subúrbios pela manhã e reflui para os subúrbios à tarde. E vão apinhados como sardinhas e há um desastre por dia, metade não tem braço ou não tem perna, ou falta-lhes um dedo, ou mostram uma terrível cicatriz na cara. “Que foi?” “Desastre na Central.” Como consertar essa gente? Como sermos gente, no concerto dos povos? Que problema terríveis o pobre negro da África nos criou aqui, na sua inconsciente vingança!..." (em "A barca de Gleyre". São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1944. p.133).


Ironia das ironias, Ziraldo, o nome do livro de onde foi tirado o trecho acima é inspirado em um quadro do pintor suíço Charles Gleyre (1808-1874), Ilusões Perdidas. Porque foi isso que aconteceu. Porque lendo uma matéria sobre o bloco e a sua participação, você assim o endossa : "Para acabar com a polêmica, coloquei o Monteiro Lobato sambando com uma mulata. Ele tem um conto sobre uma neguinha que é uma maravilha. Racismo tem ódio. Racismo sem ódio não é racismo. A ideia é acabar com essa brincadeira de achar que a gente é racista". A gente quem, Ziraldo? Para quem você se (auto) justifica? Quem te disse que racismo sem ódio, mesmo aquele com o "humor negro" de unir uma mulata a quem grande ódio teve por ela e pelo que ela representava, não é racismo? Monteiro Lobato, sempre que se referiu a negros e mulatos, foi com ódio, com desprezo, com a certeza absoluta da própria superioridade, fazendo uso do dom que lhe foi dado e pelo qual é admirado e defendido até hoje. Em uma das cartas que iam e vinham na barca de Gleyre (nem todas estão publicadas no livro, pois a seleção foi feita por Lobato, que as censurou, claro) com seu amigo Godofredo Rangel, Lobato confessou que sabia que a escrita "é um processo indireto de fazer eugenia, e os processos indiretos, no Brasil, 'work' muito mais eficientemente".
Lobato estava certo. Certíssimo. Até hoje, muitos dos que o leram não vêem nada de errado em seu processo de chamar negro de burro aqui, de fedorento ali, de macaco acolá, de urubu mais além. Porque os processos indiretos, ou seja, sem ódio, fazendo-se passar por gente boa e amiga das crianças e do Brasil, "work" muito bem. Lobato ficou frustradíssimo quando seu "processo" sem ódio, só na inteligência, não funcionou com os norte-americanos, quando ele tentou em vão encontrar editora que publicasse o que considerava ser sua obra prima em favor da eugenia e da eliminação, via esterilização, de todos os negros. Ele falava do livro "O presidente negro ou O choque das raças" que, ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos, país daquele povo que odeia negros, como você diz, Ziraldo, foi publicado no Brasil. Primeiro em capítulos no jornal carioca A Manhã, do qual Lobato era colaborador, e logo em seguida em edição da Editora Companhia Nacional, pertencente a Lobato. Tal livro foi dedicado secretamente ao amigo e médico eugenista Renato Kehl, em meio à vasta e duradoura correspondência trocada pelos dois: “Renato, tu és o pai da eugenia no Brasil e a ti devia eu dedicar meu Choque, grito de guerra pró-eugenia. Vejo que errei não te pondo lá no frontispício, mas perdoai a este estropeado amigo. (...) Precisamos lançar, vulgarizar estas idéias. A humanidade precisa de uma coisa só: póda. É como a vinha".

Impossibilitado de colher os frutos dessa poda nos EUA, Lobato desabafou com Godofredo Rangel: "Meu romance não encontra editor. [...]. Acham-no ofensivo à dignidade americana, visto admitir que depois de tantos séculos de progresso moral possa este povo, coletivamente, cometer a sangue frio o belo crime que sugeri. Errei vindo cá tão verde. Devia ter vindo no tempo em que eles linchavam os negros." Tempos depois, voltou a se animar: "Um escândalo literário equivale no mínimo a 2.000.000 dólares para o autor (...) Esse ovo de escândalo foi recusado por cinco editores conservadores e amigos de obras bem comportadas, mas acaba de encher de entusiasmo um editor judeu que quer que eu o refaça e ponha mais matéria de exasperação. Penso como ele e estou com idéias de enxertar um capítulo no qual conte a guerra donde resultou a conquista pelos Estados Unidos do México e toda essa infecção spanish da América Central. O meu judeu acha que com isso até uma proibição policial obteremos - o que vale um milhão de dólares. Um livro proibido aqui sai na Inglaterra e entra boothegued como o whisky e outras implicâncias dos puritanos". Lobato percebeu, Ziraldo, que talvez devesse apenas exasperar-se mais, ser mais claro em suas ideias, explicar melhor seu ódio e seu racismo, não importando a quem atingiria e nem por quanto tempo perduraria, e nem o quão fundo se instalaria na sociedade brasileira. Importava o dinheiro, não a exasperação dos ofendidos. 2.000.000 de dólares, ele pensava, por um ovo de escândalo. Como também foi por dinheiro que o Jeca Tatu, reabilitado, estampou as propagandas do Biotônico Fontoura. 

(...)


(Continue lendo o texto no blog do professor)

Trecho que chamou a minha atenção:



A gente se acostuma, Ziraldo. Como o seu menino marrom se acostumou com as sandálias de dedo: "O menino marrom estava tão acostumado com aquelas sandálias que era capaz de jogar futebol com elas, apostar corridas, saltar obstáculos sem que as sandálias desgrudassem de seus pés. Vai ver, elas já faziam parte dele" (ZIRALDO, 1986,p. 06, em O Menino Marrom). O menino marrom, embora seja a figura simpática e esperta e bonita que você descreve, estava acostumado e fadado a ser pé-de-chinelo, em comparação ao seu amigo menino cor-de-rosa, porque "(...) um já está quase formado e o outro não estuda mais (...). Um já conseguiu um emprego, o outro foi despedido do quinto que conseguiu. Um passa seus dias lendo (...), um não lê coisa alguma, deixa tudo pra depois (...). Um pode ser diplomata ou chofer de caminhão. O outro vai ser poeta ou viver na contramão (...). Um adora um som moderno e o outro – Como é que pode? – se amarra é num pagode. (...) Um é um cara ótimo e o outro, sem qualquer duvida, é um sujeito muito bom. Um já não é mais rosado e o outro está mais marrom" (ZIRALDO, 1986, p.31). O menino marrom, ao crescer, talvez virasse marginal, fado de muito negro, como você nos mostra aqui: "(...) o menino cor-de-rosa resolveu perguntar: por que você vem todo o dia ver a velhinha atravessar a rua? E o menino marrom respondeu: Eu quero ver ela ser atropelada" (ZIRALDO, 1986, p.24), porque a própria professora tinha ensinado para ele a diferença e a (não) mistura das cores. Então ele pensou que "Ficar sozinho, às vezes, é bom: você começa a refletir, a pensar muito e consegue descobrir coisas lindas. Nessa de saber de cor e de luz (...) o menino marrom começou a entender porque é que o branco dava uma idéia de paz, de pureza e de alegria. E porque razão o preto simbolizava a angústia, a solidão, a tristeza. Ele pensava: o preto é a escuridão, o olho fechado; você não vê nada. O branco é o olho aberto, é a luz!" (ZIRALDO, 1986, p.29), e que deveria se conformar com isso e não se revoltar, não ter ódio nenhum ao ser ensinado que, daquela beleza, pureza e alegria que havia na cor branca, ele não tinha nada. O seu texto nos ensina que é assim, sem ódio, que se doma e se educa para que cada um saiba o seu lugar, com docilidade e resignação: "Meu querido amigo: Eu andava muito triste ultimamente, pois estava sentindo muito sua falta. Agora estou mais contente porque acabo de descobrir uma coisa importante: preto é, apenas, a ausência do branco" (ZIRALDO, 1986, p.30).

Todo Mundo Odeia o Lacerda

A comoção contra a atual gestão da Prefeitura é tão grande que já se pensa em fazer um grande movimento contra as lambanças de Márcio e seus asseclas.

No dia 28 às 18h, diversas entidades vão discutir onde e a que horas vai ocorrer o grande ato "Todos Contra Lacerda" - a reunião será na Rua da Bahia, 504, 3º andar. Mas a data da manifestação já está definida: quinta, 3 de março.

Levanta, Serra!


Terceiro Eventão da Praia da Estação – 1 ano de Praia - por Luther Blissett





Manifestantes celebram um ano de Praia da Estação
O 3º Eventão vem contestar o principado do Curral Del Rei e o Delegado do Estado

*TEXTO RETIRADO DO GRUPO DE E-MAILS DO MOVIMENTO PRAIA DA ESTAÇÃO. 

O principal movimento popular de crítica ao governo Marcio Lacerda à frente da Prefeitura de Belo Horizonte comemora um ano com grande festa na Praça da Estação, neste sábado, dia 22 de janeiro. Em comemoração a um ano de Praia da Estação, está sendo preparado o 3º Eventão da Praia da Estação. Algumas presenças já foram confirmadas, entre elas a Escola de Samba Cidade Jardim, o Grupo Trovão das Minas, os Blocos de Carnaval de BH, grupos de percussão, instalações e performances teatrais. Para completar o cenário, um caminhão pipa é contratado para refrescar os banhistas - já que a PBH prefere desligar a fonte nos dias de maior movimento.

Os sábados na Praça da Estação nunca mais foram os mesmos depois que a praça virou praia e foi tomada por banhistas em trajes de banho e com acessórios de praianos. Boias, guarda-sóis, cadeiras de praia, bolas, petecas, bicicletas e até uma prancha de surf são vistos por lá e causam a curiosidade em quem circula pela Praça. Quem se aproxima é logo informado do que se trata e convidado a demonstrar a sua indignação com a má gestão pública de uma forma irreverente e alegre. O movimento ultrapassou a praça para lutar por outras questões, como o processo de higienização que a cidade enfrenta, a limitação de uso de outros espaços públicos, a paralisação de projetos culturais e os preparativos para a Copa de 2014.

A gota d’água para o início do movimento foi a proibição, por meio de um decreto, do uso da Praça da Estação para a realização de eventos em dezembro de 2009. O que se viu a partir daí foi o surgimento de um movimento político, sem partido, democrático e muito criativo, que a cada dia conquista mais gente.

Indignados com algumas medidas da PBH, um grupo de cidadãos, de diversas idades começou a se mobilizar para questionar as decisões de Márcio Lacerda, o “prefeito” que se julga príncipe e que tolhe e proíbe a livre circulação na cidade.


Programação:

10h - Praia da Estação
13h - Ensaio dos Blocos de Rua do Carnaval
16h- Trovão das Minas
17h- Bateria da Escola de Samba da Cidade Jardim

+ Performances e Intervenções

Serviço
Terceiro Eventão da Praia da Estação
Venha e traga sua toalha, seu instrumento musical e tudo o que o que puder encher a praia de cor!
Sábado, 22 de janeiro, 10h
Praça da Estação

OCUPE A CIDADE!

Informações para a imprensa:

Dani (Trovão das Minas): 9649-7059
Lee (GRES Cidade Jardim): 9857-5345
Rafa: 9624-8813
Luiz: 9791-4493
Fidélis: 8846.7932


DIVULGUEM!

Praça Livre BH
twitter.com/pracalivrebh
pracalivrebh@gmail.com

Desapropriar para expandir

Via Facebook, chega a seguinte nota:

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) autorizou, por meio de decreto assinado pelo prefeito Marcio Lacerda (PSB), a desapropriação imediata de seis terrenos para a construção de um anexo da Câmara Municipal e a ampliação do estacionamento privativo dos vereadores e servidores do legislativo da capital. O anúncio, decretando de utilidade pública os imóveis localizados nas ruas Tenente Anastácio Moura e João Ribeiro, do lado direito da entrada principal da Câmara, no Bairro Santa Efigênia, foi publicado na edição de 29 de dezembro do Diário Oficial do Município (DOM), a pedido da Mesa Diretora da Casa.

Pelo decreto, as desapropriações poderão ser feitas mediante acordo ou processo na Justiça. Atualmente, a Câmara Municipal abriga cerca 1,5 mil servidores, entre efetivos, estagiários, comissionados e terceirizados em um confortável prédio de três andares, dividido em dois blocos. Cada um dos 41 vereadores tem direito de nomear até 12 assessores em cada gabinete. A verba pública para custear as expansões não foi divulgada. Donos dos imóveis citados no decreto, porém, estão indignados com a iniciativa e não aceitam sequer sentar na mesa para negociar possíveis valores de indenização das desapropriações.

Defensor da obra, o novo presidente da Câmara de BH, vereador Léo Burguês (PSDB), informou ontem que já vai contratar uma empresa para fazer os projetos de engenharia e arquitetura do prédio e do estacionamento. Depois de pronto, o empreendimento será executado pela Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap). A intenção é que o espaço possa ser usado para a construção de novos gabinetes de vereadores. De acordo com o tucano, dentro de cinco anos o número de parlamentares deve aumentar em razão do crescimento populacional da capital, conforme interpretação da Constituição pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Porra, Lacerda! Mais um DECRETO??

Vou falar é nada. Já temos o Burguês na Câmara. Inferno pior não há.